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textos poéticos

“A pintura é a poesia mais vista do que sentida, e a poesia é a pintura que é sentida e não vista”.
Leonardo da Vinci

“Fiz da tristeza minha amiga, companheira da solidão. Caminhamos juntos nesse mundo de escuridão!”

Fernando Ribeiro

2021 - Ambulatório de Saúde Mental Vila Sônia

FORÇA E DOR
Daniela Daragoni

2021
Ambulatório de Saúde Mental Vila Sônia

Ela me olha nos olhos

Certa de que vai me derrubar

Mas não é tão simples assim

Não antes de lutar

 

E a cada golpe eu fico mais forte

Depois de tantas quedas ficou fácil levantar

Portanto se quiser me parar

Ela vai ter que me matar

 

E não vai ser fácil.

 

Porque eu estou diferente

Da primeira vez que a gente se encontrou

Um misto de coragem e determinação

De força e dor.

 

Continuo de pé

Não tenho medo da morte

Ela quer acabar comigo e com um sorriso de canto de boca digo:

Boa sorte.

CURIOSIDADES

Poemas de Daniela Daragoni

Inspirado no anime Naruto. Segundo a autora: “porque é um personagem forte e eu e meus filhos gostamos muito”.

EVOLUINDO
Daniela Daragoni

2021
Ambulatório de Saúde Mental Vila Sônia

Sozinha

Agora ficou mais fácil de suportar

Solitude é diferente de solidão

Há coisas que somos obrigados a nos acostumar...

 

Desativei o visto por último no whatsapp

Não há nada no Facebook que eu queira olhar...

Aprendi que as pessoas juram lealdade mas nos abandonam na primeira chance

Sem pensar duas vezes,sem hesitar.

 

Sigo caminhando

Ouvindo o eco dos meus próprios passos

É reconfortante sentir que estou inteira

Sabendo que um dia estive em pedaços.

 

E olho para cada cicatriz com orgulho

Não foi fácil e nem tinha que ser...

Somos forjados por meio da dor

Hoje sou capaz de entender...

 

Não sinta pena de mim

A dor foi meu processo de amadurecimento

Sou mais forte hoje

Porque fui fraca em muitos momentos

 

E olho pro céu

E me sinto parte disso tudo

Porque entendi que não sou vítima de nada

Estou evoluindo e cumprindo meu papel nesse mundo.

AS CORES
Valéria Lopes (Vally)

2021 - Ambulatório de Saúde Mental Vila Cristina

       Eu não lembro o dia exato em que me encontrei nas cores do arco-íris, mas de alguma forma eu sempre soube que me encontrava ali.

     Eu morava numa vila cinza, dentro da vila eu era a única que amava as cores do arco-íris, eu achei que morando na vila cinza eu poderia me encontrar nas cores, porque afinal era, apenas cores, visto que o cinza também era uma cor. Só que não era assim.

    As pessoas da vila tratam as cores como abominável, ruim e errado. Era a pior coisa do mundo se encontrar nas cores, era pior do que matar ou invadir alguém. Não era aceitável se encontrar em outra cor que não seja o cinza. Se encontrar no arco-íris era odioso, era vergonhoso, era fétido, era contra a natureza, era contra tudo que era bom, era contra Deus.

     Então eu comecei a odiar as cores, eu queria ser cinza pra não ser rejeitada pelos moradores da vila, eu queria ser cinza pra não ir contra a natureza, eu queria ser cinza para que Deus me amasse da mesma forma que ele amava todos os moradores cinza da vila.

      Em todos esses anos eu alimentei o forte desejo de ser livre do brilho das cores. Todos os dias eu pensei que eu poderia ser curada das cores.

      Eu me esforço a ser cinza desde o dia em que olhar para o arco-íris se tornou ruim e em todas as vezes que eu me deixava encantar sobre poder me pintar com as cores, eu me repreendia e me lembrava o quão ruim seria me pintar assim toda vez que eu olhava pro espelho e via que o arco-íris tentava brilhar eu sinto vontade de aniquilar a pessoa que me olha de volta.

     Eu acho lindo quando vejo alguém que se encontra no arco-íris, desde que não seja eu, porque eu sinto nojo e vergonha das cores, parece que não sou digna de amar as cores.

     Tem dias que as cores estão tão vivas e brilhantes que por alguns minutos eu esqueço do ódio que sinto de me encontrar no arco-íris e nesses breves momentos eu me sinto pertencente a algum lugar, eu encontro a pessoa que eu tranquei no armário, essa pessoa está desesperada pra poder existir.

      Mas o medo me faz fechar a porta do armário e torcer o nariz pro arco-íris. Porque morar nas cores exige muita força e coragem. Eu não sou nem um pouco forte e corajosa.

      Cada vez que me encontro nas cores, fica mais difícil de não querer viver ali para sempre, mas também se torna mais difícil de não me odiar. No fim de tudo eu sinto que eu deveria me apagar de uma vez por todas...

Eu queria ter um banco cheio de dinheiro

Eu queria ser uma bomba nuclear para acabar com tudo logo

Eu queria acordar, abrir a janela e ver uma cachoeira

Eu queria ser e não ter

Eu queria ser um ser humano melhor

Eu queria dormir e acordar ao lado de alguém

Eu queria ter um serviço

Eu queria ter um lugar digno de morar

Eu queria ter minha irmã de volta

Eu queria ter participado mais da vida familiar

Eu queria viajar de balão

Eu queria ser feliz

Eu queria ter uma filha

Eu queria encontrar as minhas duas filhas para sermos felizes

EU QUERIA SER E TER

Criação Coletiva: Alexandro, Beatriz, Camila, Danilo, Daiane, Fernando, Juliano, Mariana, Ricardo

16 de julho de 2020 - CASA DE PASSAGEM

Eu queria ser tipo um mosquitinho

Eu queria estar empregado

Eu não queria ser moradora de rua

Eu queria estar namorando

Eu queria ser mais compreensivo

Eu quero ser um empresário

Eu queria registrar aquele sorriso daquele dia para sempre

Eu quero ser melhor do que já fui

Eu queria ser tipo mais amigo

Eu queria participar de turma

Eu queria ter uma vida menos confusa

Eu queria poder dizer que sou feliz

Eu queria mais atenção

Eu queria que minha poesia a conquistasse

Eu queria dormir menos

Eu queria parar de procurar um amor

Eu queria ser o homem-aranha

EU QUERIA SER E TER

Criação Coletiva: Alexandre, Erick, Flávia, Leopoldo, Manoel, Marcelo, Otávio, William


22 de julho de 2020 -  LAR DAS RUAS

CURIOSIDADES

Poemas "Eu queria ser e ter"

Poesia escrita pelas pessoas acolhidas na Casa de Passagem e Lar da Ruas nas oficinas realizadas durante a quarentena.

Minha imagem no espelho
Eliane Sertorio Fregnan

2021 - Ambulatório de Saúde Mental Vila Cristina

Não sei o que aconteceu.

Um dia me olhei no espelho e não me reconheci.

Não me vi naquela imagem.

Onde estava o brilho dos meus olhos?

Procurei e não encontrei

E o sorriso em meus lábios?

Procurei e não encontrei.

Pensei: aquela imagem não era a minha.

Mas onde eu estava?

Busquei e não consegui encontrar.

E agora?

O que fazer?

Como deixei isso acontecer?

Não sei.

Ainda me procuro, mas acho que quem vou encontrar não será a mesma  pessoa de antes. Os anos se passaram e eu esqueci de mim.

Deixei alegrias, sorrisos e esperanças para trás .

Como recuperar esse tempo perdido?

Talvez me olhando todos os dias no espelho. Olhando bem no fundo dos meus olhos.

Aprendendo a sorrir novamente.

Um pouquinho de cada vez.

Olhar bem no fundo dos meus olhos e buscar minha essência, meu ser.

Sei que um dia vou me encontrar, pois sei que eu existo bem no fundo de mim.

Preciso vir à tona, reaparecer. Também sei que não será de um dia para o outro.

Assim como me perdi aos poucos, vou me encontrar aos poucos. Sei que será lento, mas a hora que tudo voltar, serei forte, feliz, imbatível.

Serei guerreira novamente.

E vou olhar no espelho e direi:  Esta sou eu.

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